domingo, 18 de maio de 2014

O Vendedor de Passados

José Eduardo Agualusa





Opinião:

É certo que já li muitos livros, alguns deles com narradores insólitos. No entanto, nunca tinha lido nenhum narrado por nada mais, nada menos que… uma osga. Pois é, este curioso animal (odiado por muita gente) escolheu a casa e o quintal de Félix Ventura, a personagem principal desta novela, para morar. O que lhe permite assistir às inúmeras peripécias da vida deste vendedor de passados.

Mas, afinal, o que é um vendedor de passados? É uma pessoa que (por um determinado preço) constrói todo um passado, toda uma história de família fictícia para outras pessoas, com familiares que elas nunca tiveram. Isso implica bastante trabalho, pois pressupõe a criação de uma árvore genealógica complexa que justifique o presente da pessoa que procura a ajuda do vendedor de passados.

Isto poderá dar algum alento a uma pessoa que não tenha família. Ainda que esse alento seja forjado e irreal. O problema surge quando as pessoas que procuram os serviços de Félix Ventura começam, efectivamente, a acreditar que aquele passado feito à sua medida existiu verdadeiramente. Quando as pessoas a quem Félix vendeu os passados os incorporam de tal maneira nas suas vidas que acham mesmo que viveram vidas que nunca viveram. Claro que isto gera a maior das confusões. Mas a nossa amiga osga está lá para assistir e contar tudo.

“O Vendedor de Passados” foi o 1º livro que li do José Eduardo Agualusa e fiquei agradavelmente surpreendida. Gostei muito da fluidez da sua escrita, do lado mágico que as suas palavras conseguem criar na realidade que descreve, da velocidade com que entramos na história chegando rapidamente ao fim do livro. Esta leitura foi o despertar da minha vontade para ler outras obras deste autor.


3 ***

Sinopse:

"Félix Ventura. Assegure aos seus filhos um passado melhor". É a partir deste cartão-de-visita que se desenrolam os capítulos de "O Vendedor de Passados", novo romance de José Eduardo Agualusa. A mentira e a verdade, o(s) homem(s) e o(s) seu(s) duplo(s), a memória e a memória da memória, a ficção e a realidade. Angola ("é importante ironizar com a sociedade angolana, que é uma sociedade que se construiu e se continua a construir assente em muitas ficções" - o autor ao Público, 19/06/04). Tudo poderia acontecer. Tudo poderia ter acontecido. (Susana Moreira Marques, Público, Mil Folhas: "A determinada altura a osga recorda a mãe num momento da sua vida passada: 'Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros'(p. 122). José Eduardo Agualusa provavelmente escolhe a vida.") Isto é: os livros?


Sem comentários:

Enviar um comentário