terça-feira, 15 de abril de 2014

O Gosto Proibido do Gengibre

Jamie Ford


Opinião:

Não é segredo para ninguém que gosto muito de livros ambientados na II Guerra Mundial. Como a minha mãe conhece bem os meus gostos, decidiu oferecer-me este precioso livro que, obviamente, não me deixou indiferente. Muito pelo contrário.

O Gosto Proibido do Gengibre conta-nos a história de Henry Lee, um rapaz nascido nos EUA, com ascendência chinesa, e da sua amizade com Keiko, uma rapariga de ascendência japonesa. Henry e Keiko frequentam a mesma escola e tornam-se amigos por se sentirem ambos discriminados, numa altura em que os EUA entram na II Guerra Mundial. Aí ambos desenvolvem uma amizade que vai para além das palavras. Uma amizade de tal forma profunda que os levam a conhecer os meandros da alma um do outro sem terem de sequer falar.

Quando os americanos começam a enclausurar os seus habitantes japoneses em campos de detenção, Henry e Keiko ficam desesperados por saberem que serão forçosamente afastados e que podem nunca mais se ver. Percebem, então, que aquilo que sentem um pelo outro não é apenas uma forte amizade.

A história é contada em analepse por Henry que, 40 anos depois, vai recordando o seu passado e a sua amiga Keiko, no dia em que passa em frente ao Hotel Panamá. Hotel esse que estava entaipado e onde foram escondidos os pertence de dezenas de famílias japonesas que foram levadas para os campos de detenção.

O livro lança-nos um novo olhar sobre a II Guerra Mundial, deixando-nos a pensar onde é que ficam os valores da Humanidade durante estes períodos. E, apesar de algumas nações gostarem de transmitir passar a imagem que aquilo que fizeram é lícito e que foi em prol da humanidade, a verdade é que também cometem autênticas atrocidades. Umas mais graves que outras, umas mais badaladas que outras, mas nem por isso desculpáveis ou menos graves.

O livro evidencia ainda a rigidez da cultura e costumes chineses que estão fortemente retratados na personalidade dos pais de Henry, com os quais não consegui criar qualquer tipo de empatia. Sobretudo com o pai. Já o Henry é uma personagem encantadora e muito humana. A aversão que algumas personagens provocam só evidencia a capacidade exímia do autor lhes dar consistência. A amizade entre Henry e Sheldon também é digna de nota.

O Gosto Proibido do Gengibre é um livro memorável e que nos deixa na boca um gostinho bom. Atrevam-se a prová-lo!

4 ****

Sinopse:

1986. Henry Lee, um americano de ascendência chinesa, junta-se a uma multidão que se encontra à porta do Hotel Panama, outrora o ponto de encontro da comunidade japonesa de Seattle. O hotel esteve entaipado durante décadas, mas a sua nova proprietária descobriu na cave poeirenta os pertences das famílias japonesas que, após o ataque a Pearl Harbor, foram enviadas para campos de internamento. Quando uma sombrinha de bambu é exibida, Henry recua quarenta anos e recorda Keiko, uma jovem de ascendência japonesa com quem criou um profundo laço de amizade e de amor inocente que ultrapassaram os preconceitos ancestrais que opunham as duas comunidades. Quando Keiko e a sua família são enviados para um campo, apenas resta aos dois jovens esperar que a guerra termine para que as promessas que fizeram um ao outro se possam finalmente cumprir.

Passados quarenta anos, Henry, agora viúvo, ainda tenta encontrar uma explicação para o vazio que o acompanhou desde então; para a atitude distante de um pai que nunca entendeu; para a relação difícil com o filho; e, sobretudo, uma explicação para as suas próprias escolhas.

O Gosto Proibido do Gengibre é um romance extraordinário, que nos revela uma das épocas mais conflituosas da História dos Estados Unidos.






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